Vou escrever textualmente o que escrevi neste site em Dezembro de 2006 porque de então para cá pouco se modificou. Até ao surgimento da “pandemia” do Covid 19 este texto é perfeitamente adequado e senão vejamos:

Sendo, sem qualquer dúvida, uma metodologia e uma técnica cada vez mais incontornável e necessária, a telemedicina tem vindo a ser introduzida e implementada no nosso país ao longo dos últimos anos de forma nem sempre articulada, muitas vezes sem sustentação técnica e orgânica, e quase sempre de iniciativas individuais ou muito localizadas, decorrentes normalmente de uma série de boas vontades e entusiasmos mais ou menos duradouros com maior ou menor sucesso.

Por outro lado, o próprio contexto de telemedicina, as diversas formas de que a sua prática se pode revestir, as potencialidades tecnológicas envolvidas (e sempre em mudança), as suas exigências em recursos humanos, técnicos e materiais, os aspetos legais que estão implicados, as precauções a ter e os erros a evitar e, sobretudo as enormes vantagens que podem advir da sua utilização sistematizada e devidamente articulada, são áreas que a maioria dos profissionais e mesmo responsáveis pela saúde desconhecem, e que quem conhece sente uma imperiosa necessidade de discutir.

Ao longo dos últimos anos temos, por isso, vindo a assistir a um progressivo consenso por parte dos diversos profissionais utilizadores da telemedicina no sentido de que é preciso “arrumar a casa”, conciliar estratégias, avaliar experiências e unir esforços para que a telemedicina passe a usufruir de um estatuto de maioridade e de um reconhecimento, não só oficial, mas também por parte da comunidade médica e cientifica, como sendo um instrumento fiável, útil e rentabilizador dos recursos do SNS.

Foi com essa ideia em mente que diversos profissionais ligados à saúde, oriundos de várias zonas do país, mas com o ponto comum de terem já uma longa experiência na utilização da telemedicina, decidiram criar a Associação Portuguesa de Telemedicina (APT) cuja formalização ocorreu mediante escritura pública em Dezembro de 2006.

O desafio que temos pela frente é tão difícil e trabalhoso quanto entusiasmante. Sabemos que as dificuldades, complexidades e até incompreensões serão muitas, mas é precisamente por sentirmos que podemos contribuir para as ultrapassar que nos resolvemos organizar numa Associação que se pretende unificadora, aglutinadora e totalmente aberta a apoiar e ser apoiada por quem se interesse por uma causa que, temos a certeza, será um dos motores de prestação de cuidados de saúde no século 21.

A APT consubstanciou na publicação “Telemedicina, Telesaúde e Transformação Digital na Saúde” – editada em Abril de 2021, o conjunto de propostas e recomendações para o desenvolvimento da Telemedicina em Portugal, sustentado na normalização teórica e conceptual consolidada em publicações técnicas e científicas provindas dos meios académicos e dos de regulação e orientação profissional.

Este é ainda o contributo da APT para a imperiosa necessidade de discutir as multidisciplinares temáticas associadas à Telemedicina e à Telesaúde no contexto da transformação digital, discussão essencial para a convergência numa visão comum a nível nacional, partilhada pelos diversos actores, para o alinhamento de estratégias e acções com a política de saúde expressa (desejavelmente expressa) no Plano Nacional de Saúde.

Eduardo Castela

Presidente da Associação Portuguesa de Telemedicina